ECONOMIA SOCIAL
EM DEBATE NA FREGUESIA
DE MONTE CÓRDOVA
A AMAR-Santo Tirso Tirso, instituição de
reflexão e de animação cultural que, contra ventos e marés, vem insistindo em
debater temas e realidades essenciais para a promoção do concelho e das
freguesias que o constituem, aproveitou bem o dia do nascimento de S. Rosendo
(a 6 de novembro do ano 907), porventura o mais medievo e ilustre habitante de
Monte Córdova, para promover uma mesa redonda justamente na Associação de Solidariedade
Humanitária de Monte Córdova, em que duas especialistas, Maria José Abreu,
docente de Engenharia Química da Universidade do Minho e Gilda Torrão, diretora-geral
da Associação de Solidariedade e Ação Social de Santo Tirso (Asas), cada qual
no seu campo, desenvolveram o tema Economia Local (com incidência no setor
têxtil) e Economia Social, tendo contribuído para uma discussão saudável e
enriquecedora por parte de uma plateia, local e concelhia bastante motivada.
Pedro Fonseca, o apresentador e
moderador destes debates, teve o especial condão de apresentar as especialistas
que tinha na mesa mas deu a entender que não foi em vão que antecipadamente
contactou personalidades e empreendedores da localidade que em vários domínios
de atividade persistem em lutar contra o isolamento a que esta freguesia vem
sendo remetida, assinalando e bem, o homem que, nascido aqui e comemorado neste
dia, lançou uma assinalável campanha de civilização no norte peninsular, uma
rede de mosteiros que tem vindo a ser estudada academicamente mas que poderia
constituir uma emblemática fonte de turismo. Justificou a ausência do
presidente da Junta com quem contactara e que lhe disse que por motivos
prementes não poderia estar presente, como estavam aliás presidentes de outras
freguesias.
Maria José Abreu centrou a sua breve mas
incisiva comunicação na história da desagregação das indústrias têxteis
tradicionais muito por via da abertura à concorrência chinesa e outros países
emergentes e que nas décadas de 80 e 90 resultou no descalabro da indústria
dominante em Santo Tirso ;
centrou-se depois nos estudos e qualificações tecnológicas que a sua
Universidade, através do Pólo da Engenharia Têxtil, introduziu, estabelecendo
parcerias com indústrias que contribuíram para uma notável inovação e melhoria
da qualidade de produtos têxteis e diversidade de aplicações que não apenas os
dos têxteis-lar, inclusive para o setor automóvel e dispositivos médicos;
graças a esta nova orientação, os têxteis ressurgiram, sendo responsáveis por 7
por cento das exportações desde 2009 e em 2011 por um crescimento de cerca de
3000 empregos; falou da opção que certas autarquias fizeram na criação de
nichos de empresas e de mercado em fábricas completamente abandonadas e a talho
de foice lamentou que o pólo da sua universidade que é um dos mais creditados e
acreditados na orientação tecnológica visando a fileira têxtil mais
competitiva, não tenha sido sequer convidada a integrar os parceiros da
Fundação de Santo Thyrso voltada para a modernização de uma arquitetura
Industrial obsoleta.
Gilda Torrão foi, por sua vez, de uma
clareza e clarividência no que toca ao chamado terceiro setor, conceito que,
contrariando um pouco o esvaziamento do tecido produtivo tradicional e os
rendimentos e desagregações dos laços familiares com as suas consequências
trágicas, assumiu no território do concelho uma preponderância que se não pode
escamotear: assim, serviços deste setor, incluindo misericórdias, fundações,
cooperativas, IPSS, no caso que mais lhe diz respeito a Asas, entidades
empregadoras com uma forte componente de voluntariado ao nível de muitos dos
seus quadros dirigentes, que nasceram informalmente para dar respostas a
problemas sociais graves, recebem subsídios públicos e privados, contribuições
da sociedade civil mas que cada vez mais, à medida que estruturam e solidificam
os seus serviços, promovem a reflexão sobre a sua atuação e interação com o
público-alvo e com os parceiros que com eles atuam, começam a gerar também
préstimos e excedentes que podem “vir a vender” por forma a garantirem a
profissionalização dos seus agentes, sobretudo quando na vigência e provável
agravamento dos recursos provenientes do erário público, há que suprir e
encontrar novos recursos.
Enquanto diretora geral da Asas e economista,
Gilda Torrão colocava-se a princípio o problema de como compatibilizar a sua
sobrevivência e da família, a sua
realização económica, num setor que é visto ainda como um mundo onde o
altruísmo, os valores do humanismo e do voluntariado ainda são dominantes, como
equilibrar os valores de uma economia onde o lucro e a capitalização é
fundamental com os valores da benemerência, por princípio sem fins lucrativos;
concluindo que “sendo bons prestadores de serviços”, pela experiência que tem
tido na Asas, onde vários técnicos de variada formação, em equipa e trabalho de
rede conseguem abrir novas casas, acolher e integrar com êxito crianças de
famílias em risco, de que um dos mais ricos exemplos é a “Casa do Sol” em Vila
das Aves, “adquirimos já um capital e um “know-how” que estamos capazes de
fazer 'render' para acorrer a sustentabilidade dos serviços”. Como exemplo, citou
a parceria que estabeleceram com a Universidade do Minho que lhes assegura
formação a custo zero, mostrando-se cada vez mais apoiante de ‘clusters’ de
redes sociais, sendo certo que o Estado Social não vai poder sustentar estas
redes pelo que a sociedade civil tem de se mobilizar e interagir para encontrar
saídas válidas para problemas que se vão agravar.
Da plateia, mais do que elogios aos
conferentes, vieram reparos, lamentos e problematizações quanto à incapacidade
das autarquias, sobretudo por parte das câmaras que têm meios e técnicos
compatíveis, para promoverem verdadeiras e eficientes redes de ação social no concelho,
a partir das redes sociais de freguesia. Mas também surgiram exemplos vindos de
iniciativas locais e das juntas de freguesia bem conseguidos de atenuar a
desagregação do tecido produtivo com reflexos no familiar e no social.
Empresários de Monte Córdova queixaram-se das acessibilidades, discutiu-se a
economia paralela a pretexto de apoio ao artesanato, às gastronomias locais e à
solidariedade social que por tabela prejudicam as verdadeiras empresas da
economia local e os verdadeiros empresários e lamentou-se a ausência de
representantes da Associação Comercial e Industrial do Concelho de Santo Tirso
(Acist). Da parte da Asas ficou bem vincada a afirmação de que combate a
economia paralela, seja a Tininha da esquina que “lava a roupa” dos seus
utentes a preços domésticos, seja a Candidinha que faz croquetes e rissóis,
recebe subsídio de inserção e não passa recibos nem paga direitos.
TEXTO: LUÍS AMÉRICO FERNANDES
Sem comentários:
Enviar um comentário