do Burro e da vaca do
presépio obedece
a estratégia do
governo
O papa escreveu que eles não
passavam de uma invenção, mas o burro e vaca do presépio dizem que os escritos
do papa mais não são do que um estratégia do governo para fazer “saltar” para o
presépio o Coelho e, desta forma, passar a mensagem de que o estábulo é a casa
de futuro de todos os portugueses.
ENTREVISTA
O Papa fez, na semana passada, novas
revelações sobre o nascimento de Jesus Cristo, com a publicação do livro “A
Infância de Jesus”. Bento XVI afirma, por exemplo, que a vaca e o burro no
presépio de Belém são uma invenção. Na gruta onde nasceu Jesus Cristo, defende
o Papa, não existiam animais, logo, a presença da vaca e do burro não passam de
uma ideia errada. No entanto, há algo que continua inequívoco para sua
santidade, ou seja, a virgindade de Maria. Diz Bento XVI que Jesus Cristo é
fruto de uma nova criação e que foi concebido por obra do Espírito Santo.
Bento
XVI diz que, afinal, vocês não estavam lá, no presépio. É verdade?
Burro Que me desculpe, mas sua santidade não sabe do
que fala.
Não?
Burro Não. Não estava lá, ora.
Vaca Já não me bastava este nome e tinha agora de
vir o Papa dizer que não estava no presépio que, na verdade, era a única coisa
de respeito a que me associavam. Não faz sentido. Estou indignada.
Mas
então, como explicam que o Papa vos tenha ‘retirado’ da gruta?
Vaca O problema
começa logo pelo nome que o Papa dá as coisas. Aquilo não era uma gruta, era um
estábulo. E todos nós sabemos que, para além das pastagens, o estábulo é o
nosso habitat natural. Logo, se alguém estava lá a mais, não éramos nós, com
certeza.
Isso
não me aprece muito bem-educado para com a virgem Maria, S. José e muito menos
para o com o menino Jesus?
Burro Pois não,
mas também não é muito bem-educado sermos constantemente ignorados. Já reparou
que só falam dos três Reis Magos?. E estes só lá foram fazer uma visitinha de médico.
Na volta, os camelos têm mais protagonismo do que nós.
E
isso chateia-vos?
Vaca Claro que
sim. Porque, bem vistas as coisas, quem esteve sempre ao pé do menino Jesus fui
eu e o burro. O que seria do menino Jesus sem a nossa presença. Não chegava aos
33, não!
Não
percebo?!
Burro Já estou
como o antigo selecionador, “e eu é que sou burro?”. Não nos podemos esquecer
que aquilo era um estábulo e que naquele tempo não havia termoventiladores para
soprar calor aos pezinhos do menino. Por isso, quem acha que fazia esse
trabalho? O nosso bafo é poderoso, está bem de se ver.
Faz
sentido, de facto. Mas não me parece motivo para tanta indignação.
Vaca Não?! Mas olhe que não somos os únicos. Ainda ontem
me cruzei com o senhor presidente da Câmara e ele estava furioso.
Com o senhor presidente da Câmara? Não
sabia que eram íntimos.
Vaca Não somos íntimos, mas desde que Santo Tirso é a
capital do presépio que falamos amiúde. E claro, percebo a indignação do senhor
engenheiro: então, tiram-lhe a maternidade e agora querem-lhe retirar o burro e
a vaca do presépio? Tem razão, sim, o senhor o presidente em protestar.
Mas a quem podem vocês protestar? Já
para não falar no velho ditado que diz que “vozes de burro não chegam ao céu”.
Burro Mas também só precisamos que cheguem a Belém. O
presidente da República tem de fazer alguma coisa.
Cavaco Silva? Mas que tem o presidente
da república a ver com o assunto?
Vaca Bem sei que o senhor presidente da república prefere
estar calado, mas quero acreditar que faz alguma coisa nos ‘bastidores’ e que
ainda tem estofo para puxar as orelhas ao Coelho?
Está a falar do primeiro-ministro?
Burro Naturalmente. No que
foi com o pai-natal ao circo é que não é, de certeza.
Mas continuo sem perceber: o que tem o
presidente da Republica e o primeiro-ministro com o assunto?
Burro Razão tinha o Scolari… mas adiante. Não se esqueça que
o governo ainda recentemente andou em negociações com a Santa Sé. E, à custa
disso, ficamos sem quatro feriados. Mas acha que a obsessão pela austeridade se
ficou por aqui? Claro que não. Não foi o Papa que nos aniquilou do presépio,
foi o governo. Bem sabe que este governo só pensa em cortar, cortar, cortar… E
para legitimar mais um corte, há que pedir ao Papa para dizer que nós, afinal,
somos uma invenção. E claro, o Papa como lhes devia um favor, por ceder ao
corte de apenas dois feriados religiosos, não foi capaz de dizer que não ao
pedido do Coelho.
Isso parece-me um pouco kafkiano…
Burro Perdão?
Não interessa. Mas, na realidade ainda
não o disseram: como provam que afinal estavam no presépio?
Burro Com arte. Não a contemporânea,
que nos transformou a todos em estacas, num pseudo-abstraccionismo que não
lembra o diabo. Mas com os impressionistas, os renascentistas. Esses sim,
sabiam bem como nos retratar.
Admitem fazer greve este Natal?
Vaca Não, não… até porque não nos podemos fiar na virgem.
Como assim?
Burro Não podemos correr o risco de o governo recorrer à requisição civil.
Mas porque
haveria o governo de recorrer aos serviços mínimos se dizem que foi ele que vos
aniquilou?
Burro Pois, aí é que está a
questão. Toda esta história não passa de mais um estratégia do governo para
fazer saltar um Coelho para o presépio e assim passar a mensagem de que o
estábulo será a casa de futuro de todos os portugueses. E para intrusos, já nos basta a Virgem, S. José e o menino
Jesus.
Verdadeiramente kafkiano!
1 comentário:
Muito Bom!
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