"Há uma opulência escandalosa em Luanda"

Com a visita de Cavaco Silva a Angola em pano de fundo, o Entre Margens foi conhecer a missionária Maria José, da Caritas, que há décadas trocou Vila das Aves por Angola, e que por motivos de saúde passou recentemente alguns meses em Portugal.

A missionária trabalha com mulheres camponesas no interior de Malanje, uma província do norte de Angola, onde a pobreza é incontornável e as condições de vida são tão precárias que se torna difícil para qualquer um de nós imaginar.

No depoimento concedido ao Entre margens, a missionária Maria José fala sem rodeios dos mais diversos assuntos: desde as clivagens entre muito ricos e muito pobres, à corrupção: desde o novo fenómeno emigratório, à situação da mulher angolana; sem esquecer a relação com Portugal e os portugueses.

Clivagens entre os muito ricos e os muito pobres

"Há uma opulência escandalosa em Luanda. Há uma parte em Luanda, que de há três anos para cá tem vindo a ser construída, mas que dantes era só mata, e que quando lá chegamos parece que estamos na Europa. Os prédios são último grito, têm piscinas, têm tudo o que há de melhor. E depois há os pobres que continuam a viver na sua choupana de terra batida, sem água, sem esgotos, sem energia, sem nada. É uma miséria gritante. O presidente, aquando a sua reeleição, prometeu fazer um milhão de casas, e já fez bastantes, mas foi só para os grandes, não há uma única construção de caráter social. Os pobres são cada vez mais pobres. Os jovens não podem estudar porque têm que ir para a rua vender coisas. Luanda é uma praça de vendilhões. Em Malanje também acontece, com a agravante que as mães vão para as ruas com os filhos às costas, com cesto na cabeça e passam o dia na rua a vender bananas e outras frutas… Não é mito, acontece mesmo e é uma cosia que faz doer o coração."

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