No meio podem estar muitas coisas (a virtude é uma delas), mas no caso do Guimarães Jazz, e tendo em conta as declarações feitas esta tarde pelo diretor do festival, Ivo Martins, poderá estar a síntese do próprio certame, comprometido com o passado mas também com o futuro do jazz, através do concerto do Charles Lloyd New Quartet (na imagem). O grupo apresenta-se a 18 de novembro (já o festival vai a meio, precisamente), num concerto que Ivo Martins classifica de “charneira entre o passado e o futuro”. Este será também, sublinha a organização “um dos momentos mais intensos deste festival”, com o saxofonista Charles Lloyd acompanhado em palco por Jason Moran no piano, Reuben Rogers no contrabaixo e Eric Harland na bateria.
No último dia do festival, já o jazz andará colado à pista de dança, com o contributo do produtor e DJ Christian Prommer, numa festa anunciada para o São Mamede, mas até lá o jazz, vadio por natureza, vai dialogando com outras músicas. O Gonzalo Rubalcaba Quintet (dia 19) será o exemplo mais flagrante, mas os The Story (dia 17) também darão conta do recado.
Mas há semelhança do ano passado, também há memória neste festival, ou, como diz Ivo Martins, haverá celebração e é por aí que o certame começa, a 11 de novembro. O incontornável “Kind of Blue” de Miles Davis em 2009, este ano a homenagem ao legado do vibrafonista Lionel Hampton, uma das grandes figuras da história do jazz, através da reconstituição de uma orquestra que reúne um conjunto alargado de músicos entre os quais se destacam Red Holloway (saxofone tenor), Diane Schuur (voz), Jason Marsalis (vibrafone) e Curtis Fuller (trombone), entre outros.
Com uma carreira que conta com quase três décadas, Kenny Garrett é o senhor que se segue no Guimarães Jazz (dia 12). Mas não estará sozinho; ao saxofonista juntam-se Johnny Mercier no órgão, Kona Khasu no baixo e Nathan Webb na bateria. Kenny Garret é “uma importante estreia no Guimarães Jazz”, referiu Ivo Martins que destacou do percurso do saxofonista, os anos passados com Miles Davis e em particular na sua fase mais elétrica.
A 13 de novembro, três dos maiores saxofonistas da cena jazzistica mundial junta-se no projeto Saxophone Summit. São eles Joe Lovano, Ravi Coltraine e Dave Liebman, representativos de três diferentes escolas e formas de abordagem do saxofone “num trabalho de interação musical”, sublinhou o diretor artístico.
No domingo, 14 de novembro, e fruto da pareceria do Guimarães Jazz com a editora nacional TOAP, será gravado o quinto concerto de um coletivo que se transforma a cada edição do festival. O projecto TOAP é corporizado este ano pelo saxofonista Julian Arguelles, o guitarrista André Fernandes (que também se ocupará dos samplers), pelo pianista de Mário Laginha e ainda por Nelson Cascais no contrabaixo e Marcos Cavalero na bateria. No final do concerto, será lançada a gravação feita na edição de 2009 que contou com a participação de Bernardo Sassetti e Damian Cabaud entre outros.
O futuro do jazz passa por eles, diz Ivo Martins, sendo que “eles” são os The Story; quinteto formado por jovens músicos originários dos Estados Unidos e da Europa e que desenvolvem um jazz muito atual com influências que vão das correntes mais tradicionais do jazz ao minimalismo e à música erudita contemporânea. Para além da sua apresentação em concerto a 17 de novembro, o grupo (constituído por Samir Zarif e Lars Dietrich no saxofone, John Escreetno piano, Zack Lober no contrabaixo e Greg Ritchie na bateria) vai ainda dirigir as jam sessions e as oficinas de jazz do festival.
E depois do concerto do meio (Charles Lloyd New Quartet, dia 18) é a vez, a 19 de novembro do quinteto de Gonzalo Rubalcaba. Um regresso ao Guimarães Jazz (a primeira, foi no âmbito da quinta edição, em 1996) deste pianista que desenvolve uma linguagem musical com uma componente fortemente rítmica e influenciada pelas sonoridades da América Latina. Na cidade berço, Gonzalo Rubalcaba irá apresentar composições do seu novo trabalho, a ser editado ainda este ano pela Blue Note.
A 20 de Novembro, fecham-se as portas do festival com dois concertos no auditório do Vila Flor, estando a festa de encerramento reservada para o São Mamede – Centro de Artes e Espectáculos. O primeiro concerto, ao final da tarde (18h00), terá a presença da Big Band da ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo) dirigida pelos músicos do grupo The Story, resultado de uma colaboração com esta escola que se tem mantido ao longo dos anos e que tem dinamizado as atividades paralelas do festival. Às 22 horas, sobe ao palco a New York Composers Orchestra, que reúne alguns dos músicos mais representativos do movimento da “downtown” dos anos 90, entre os quais se destacam Wayne Horvitz (direção), Robin Holcomb (piano e direção), Marty Ehrlich (saxofones e clarinetes), Doug Wieselman (palhetas), Lindsey Horner (contrabaixo) e Bobby Previte (bateria).
Após o concerto da New York Composers Orchestra (que se reúne ao fim de 25 anos propositadamente para o Guimarães Jazz), a última noite do festival prolonga-se no São Mamede. À meia-noite, no café concerto, o grupo The Story protagoniza aquela que é a última jam session do certame e, às 02h00, na sala principal, é a vez do concerto de Christian Prommer, um dos mais talentosos produtores e dj´s no cenário musical alemão.
“Maturidade” e “pujança” foram duas das palavras escolhidas pela vereadora da cultura da Câmara de Guimarães para descrever o festival, que cumpre este ano a 19ª edição. “O impacto que o Guimarães Jazz tem enche-nos de orgulho, mas também nos dá uma responsabilidade acrescida que é a de manter este nível de exigência”, sublinhou Francisca Abreu e, talvez por isso, a comparticipação camarária se tenha mantido sensivelmente a mesma do ano passado, 200 mil euros.
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