quinta-feira, julho 10, 2008

"Carpe Diem é um bar-concerto que muitas vezes tem 'flirts' com a discoteca"

ENTREVISTA A ZÉ COSTA, PROPRIETÁRIO DO BAR "CARPE DIEM"

O nome surgiu a partir do mítico filme “O clube dos poetas mortos”, talvez daí tenham retirado uma ideia basilar que parece definir o Carpe Diem: persistência e amor à cultura. Hoje em dia, o nome já tem um significado diferente que não aquele que tinha há 18 anos atrás, quando o Carpe Diem abriu as postas “mas mantêm-se o espírito de aproveitar o dia.” diz-nos Zé Costa que nos faz uma pequena retrospectiva do percurso do bar: “O Carpe Diem surgiu em 1990, e nasceu a partir de uma lacuna que havia na cidade. Não havia um sítio que passasse uma música agradável para ouvir e para descobrir; sobretudo para descobrir. Na altura tínhamos os Ecos da Cave, e andávamos pelo país fora a fazer concertos. Então víamos sítios e começamo-nos a aperceber que em Santo Tirso não havia sítios assim. O bar nasce principalmente por causa disso. Uma maluqueira, porque em termos de rentabilidade económica o bar nunca foi um sucesso. E assim já se passaram 18 anos com uma actividade mais ou menos regular, com altos e baixos, mas mais baixos que altos.”

Essa lacuna que pretendiam colmatar em 1990 ainda se mantém?
Mantém-se. O que existe não é igual ao que existia em 1990, mas o que existe se fizermos uma equivalência à época, é muito fraco. Se na altura não havia nada, e se fizermos uma comparação com os concelhos vizinhos como Braga, Famalicão, Guimarães, Maia, vemos que Santo Tirso tem menos do que o que tinha em 1990. Porque as outras cidades têm mais!

Afinal o que é o Carpe Diem é um bar, é um café, é um clube?
(risos) Hum… (silêncio) Hum… Primeiro, e antes de, é um ponto de encontro de pessoas que têm afinidades com actividades culturais. A música é o principal pilar. E se for ver a história, penso que o Carpe é um bar-concerto que muitas vezes tem flirts com a discoteca. Muitas vezes os clientes acabam todos ali (aponta para o centro do bar) a dançar até isto fechar. (risos)

O público-alvo do Carpe Diem é preferencialmente dos 40 para baixo, mas parece não haver uma adesão muito forte de jovens adolescentes!
Tenho clientes com 50 anos que vêm até cá ouvir música e passar um bocado. Hoje em dia os miúdos estão a mudar. Os nossos clientes não são tão juvenis quanto isso, por uma razão que, para mim, é assustadora. A faixa juvenil está “envenenada”. Eu lembro-me de quando tinha 18 anos as descobertas que se faziam, (e que se tinham que fazer), são muito diferentes daquelas que hoje em dia se fazem. Hoje em dia é normal ires, por exemplo, à Pedra do Couto e teres clientes sub 16, e vires ao Carpe Diem e não teres clientes sub 16! Portanto penso que há alguma coisa que está errada! A pesquisa dos adolescentes é hoje dia menos rica do que era há uns anos atrás, pelo menos é a minha opinião.

Quem vem ao Carpe Diem gosta de um estilo de música específico, gosta de um ambiente menos comercial. Não achas que o Carpe Diem ainda tem uma conotação, no mínimo, elitista?
Pois… Quem gosta do que é comercial está nesses outros espaços. É a influência “Morangos com a Açúcar”. Essa faixa etária está “envenenada” pela televisão. Acho que o valor cultural que hoje em dia é transmitido não é o melhor, e a cultura também aprece não ser muito importante para esse público. A partir do momento que é assim, então o Carpe é, de facto, mais elitista.


*Versão integral desta entrevista na edição de 9 de Julho de 2008 do Entre Margens (Suplemento Santo Tirso)

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