quarta-feira, abril 01, 2009

"Percebi que iria ser um desafio difícil por estarem em jogo questões que me ultrapassavam"



A rede ferroviária nacional encomendou dois painéis de azulejos ao conceituado artista plástico Eduardo Nery para a estação ferroviária de Vila das Aves. Os painéis foram colocados na sala de espera da estação em meados do ano passado… mas a estação mantém-se encerrada ao público. Sobre isto a Refer e a CP nada dizem. Mas vá lá, leia a entrevista com o Eduardo Nery e depois espreite-os pelas portadas de vidro da estação.

Aquando da polémica em torno do nome da Estação Ferroviária de Vila das Aves ficou acordado que a Rede Ferroviária Nacional (Refer) iria perpetuar o passado da estação, outrora designada de Vila das Aves / Negrelos através de uma obra de arte a colocar na sala de espera do novo edifício. Com a assinatura de Eduardo Nery, os painéis foram colocados na sala de espera da estação ferroviária em Junho de 2008, mas a estação vai permanecendo fechada ao público sem que a Refer e a CP expliquem o que quer que seja sobre o assunto.

Eduardo Nery, contudo, contactado pelo Entre Margens aceitou o desafio e explicou, através de entrevista elaborada por mail, todo o processo que levou a realização destes dois painéis e comentou ainda o facto de a estação se manter fechada ao público.

Quando e em que termos surge a encomenda da Refer para a realização dos painéis que hoje se encontram na estação de Vila das Aves?
Passou demasiado tempo para me recordar dos exactos termos em que surgiu este convite. Apenas me recordo de me ter sido explicado pela Refer de existir uma situação melindrosa entre Negrelos e Vila das Aves, centrada sobretudo na estação ferroviária. Percebi que iria ser um desafio dificil para mim, visto estarem em jogo questões, que ultrapassavam o meu âmbito habitual como artista plástico e, que as deveria ter em linha de conta ao aceitar este convite. Seja como for, marquei bem, logo de início, que não deixaria de manter a minha independência criativa na interpretação dos temas que viesse a seleccionar.

A prova de que a Refer concordou com a minha interpretação artística foi o facto de ter aprovado o meu projecto, não tendo sido sujeito a quaisquer alterações posteriores, por parte do meu cliente que era a Refer e, não, Negrelos ou Vila das Aves.

Por outro lado, quando fui convidado a fazer este trabalho, um técnico da Refer levou-me a visitar a estação e a reunir com o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Negrelos. Para ser franco, nessa curta reunião não me pareceu existir uma situação tão susceptível, que se tornasse intransponível no meu trabalho, o que me deixou tranquilo e confiante de que tudo iria correr bem.

Tem conhecimento que a Estação Ferroviária onde se encontram os painéis se encontra encerrada ao público? Como autor dos mesmos, como comenta e se sente em relação a este facto?
Desconhecia essa situação inesperada e não concordo com ela, quaisquer que sejam as razões que levaram a Refer a manter fechado o edifício da estação. Sempre imaginei que este espaço estaria aberto ao público, sobretudo depois de me terem encomendado estas duas obras em 2005, com objectivos muito precisos. Claro, que como seu autor me sinto frustrado e afectado, porque gostaria que estivessem ao alcance do público local e também exterior.

Porém, não tenciono dramatizar esta situação, visto estar habituado a ela há muitos anos. Todos os pintores criam obras que depois de adquiridas por coleccionadores vão para suas casas ou para os seus escritórios, ficando vedada a sua fruição posterior pelo seu autor e pelo público em geral. Nada posso fazer para inverter essa situação, como afinal acontece com essas pinturas vendidas, sobre as quais apenas detenho a propriedade intelectual e o direito de as divulgar, mas não a posse plena, alienada com a sua venda. Neste caso concreto, com o pagamento da encomenda.

Seja como for, tenho de acreditar que a Refer irá rever esta situação anómala e reabrir a estação ao público. Assim o espero!

LEIA MAIS NA EDIÇÃO ESPECIAL SOBRE VILA DAS AVES DO SUPLEMENTO "FREGUESIAS". HOJE, DIA 1, NAS BANCAS

Sem comentários: