terça-feira, fevereiro 08, 2011

Gui Dance: Vila Flor reforça aposta na dança contemporânea



Chega da Austrália o espetáculo de abertura do Gui Dance, Festival Internacional de Dança Contemporânea que se realiza no próximo mês de março no Centro Cultural Vila Flor. “Be Your Self” traz a assinatura da Australian Dance Theatre; companhia fundada em 1965 e com prestígio suficiente para dispensar grandes apresentações. Reputação esta que serve, igualmente, os propósitos da organização do festival, ou seja, o de, por um lado, trazer a Guimarães companhias da dança contemporânea, nacionais e internacionais, com um percurso consolidado e ao mesmo tempo reconhecido e, por outro, conferir igual visibilidade a projetos emergentes.

Mas, como começou por dizer esta manhã em conferência de imprensa José Bastos, o Gui Dance “não é apenas uma festival de dança, é mais uma alavanca na estratégia programática do Centro Cultural Vila Flor”. Se é verdade, e de acordo com o diretor-executivo do Vila Flor, que a música e o teatro “já tinham eventos âncora, também é verdade que na dança” isso não acontecia. Ou seja, e por outras palavras, ao Guimarães Jazz e aos Festivais Gil Vicente junta-se agora o Gui Dance como palco privilegiado das artes-perfomativas e que no âmbito desta primeira edição dará a conhecer as mais recentes criações da Companhia Olga Roriz ou da belga Eastman.

Já o programador Marcos Barbosa diria depois que o festival servirá também como "‘warm up’ para aquilo que acontecerá em 2012”, sendo que alguns dos projetos a apresentar nesta primeira edição do Gui Dance marcarão presença no próximo ano. Francisca Abreu, vereadora da cultura da Câmara de Guimarães, sublinhou, por sua vez, a aposta, não de agora, que tem sido feita na dança contemporânea, e que o festival pretende “consolidar” e ampliar.

Com a dança contemporânea cada vez menos presente na programação cultural da cidade invicta, Francisca Abreu, embora dizendo que a organização está atenta às circunstâncias, refere, por outro lado, que não se está a programar “contra” qualquer cidade. Marcos Barbosa complementaria a ideia, afirmando que o desejável era que “houvesse mais cidades como Guimarães a ter festivais destes”.

PROGRAMAÇÃO

Um conjunto de bailarinos e um ator fazem de “Be Your Self” (dia 10) uma experiência “tridimensional” e “intemporal”, conjugando dança, música, palavra, vídeo e arquitetura. Assinado por Garry Stewart, o espetáculo da Australian Dance Theatre especula sobre a natureza do ser humano e da sua individualidade.

“Mapacorpo” é o espetáculo que se segue no Gui Dance (dia 11) com as criadoras e intérpretes Amélia Bentes e Leonor Keil e, mais uma vez, há várias disciplinas em jogo; não só a dança, mas também o desenho digital e a música, no caso, interpretada ao vivo.

Para sábado (dia 12), um clássico da dança contemporânea (com tudo o que a afirmação tenha de contraditório), nomeadamente “Rosas Danst Rosas”, uma criação, com cerca de três décadas, da coreografa e bailarina Anne Teresa De Keersmaeker. A 16 de março, o Vila Flor apresenta-se como co-produtor de “Entre Todas as Coisas”; um objeto coreográfico de Teresa Prima, criado no âmbito do Projeto B.

Já a companhia Olga Roriz tem dupla presença no Gui Dance; no mesmo dia (17) serão apresentadas as peças “Electra” e “Sagração da primavera”, ambas estreadas em 2010, apresentando-se Olga Roriz a solo, na primeira. Seguem-se no festival dois solos (dia 18): o de Lígia Soares em “Ar ao vento” e o de Andresa Soares com “Era uma coisa mesmo muito abstrata”. Para o encerramento do festival, “Babel” (Words) da companhia belga Eastman numa coreografia de Sidi Larbi Cherkaoui que toma como ponto de partida a lenda da Torre de Babel e que explora a linguagem e a sua relação com a nacionalidade, a identidade e a religião com um corpo de bailarinos que reflete, por si só, essa mesma diversidade.

Com um orçamento de 150 mil euros, o Gui Dance não se fica pelos espetáculos; há que ter também em conta as várias atividades paralelas, como o workshop e o masterclasse sobre técnicas de dança, coordenados pela companhia australiana, as duas mesas-redondas dedicadas à dança contemporânea; ou, entre outras, a sessão aberta do Laboratório B.

Texto: José Alves de Carvalho. Na imagem, "Be Your Self", numa foto de Chris Herzfeld

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