sexta-feira, dezembro 14, 2012

DEBATE AMAR-SANTO TIRSO

ECONOMIA LOCAL /
ECONOMIA SOCIAL 
EM DEBATE NA FREGUESIA 
DE MONTE CÓRDOVA

A AMAR-Santo Tirso Tirso, instituição de reflexão e de animação cultural que, contra ventos e marés, vem insistindo em debater temas e realidades essenciais para a promoção do concelho e das freguesias que o constituem, aproveitou bem o dia do nascimento de S. Rosendo (a 6 de novembro do ano 907), porventura o mais medievo e ilustre habitante de Monte Córdova, para promover uma mesa redonda justamente na Associação de Solidariedade Humanitária de Monte Córdova, em que duas especialistas, Maria José Abreu, docente de Engenharia Química da Universidade do Minho e Gilda Torrão, diretora-geral da Associação de Solidariedade e Ação Social de Santo Tirso (Asas), cada qual no seu campo, desenvolveram o tema Economia Local (com incidência no setor têxtil) e Economia Social, tendo contribuído para uma discussão saudável e enriquecedora por parte de uma plateia, local e concelhia bastante motivada.

Pedro Fonseca, o apresentador e moderador destes debates, teve o especial condão de apresentar as especialistas que tinha na mesa mas deu a entender que não foi em vão que antecipadamente contactou personalidades e empreendedores da localidade que em vários domínios de atividade persistem em lutar contra o isolamento a que esta freguesia vem sendo remetida, assinalando e bem, o homem que, nascido aqui e comemorado neste dia, lançou uma assinalável campanha de civilização no norte peninsular, uma rede de mosteiros que tem vindo a ser estudada academicamente mas que poderia constituir uma emblemática fonte de turismo. Justificou a ausência do presidente da Junta com quem contactara e que lhe disse que por motivos prementes não poderia estar presente, como estavam aliás presidentes de outras freguesias.

Maria José Abreu centrou a sua breve mas incisiva comunicação na história da desagregação das indústrias têxteis tradicionais muito por via da abertura à concorrência chinesa e outros países emergentes e que nas décadas de 80 e 90 resultou no descalabro da indústria dominante em Santo Tirso; centrou-se depois nos estudos e qualificações tecnológicas que a sua Universidade, através do Pólo da Engenharia Têxtil, introduziu, estabelecendo parcerias com indústrias que contribuíram para uma notável inovação e melhoria da qualidade de produtos têxteis e diversidade de aplicações que não apenas os dos têxteis-lar, inclusive para o setor automóvel e dispositivos médicos; graças a esta nova orientação, os têxteis ressurgiram, sendo responsáveis por 7 por cento das exportações desde 2009 e em 2011 por um crescimento de cerca de 3000 empregos; falou da opção que certas autarquias fizeram na criação de nichos de empresas e de mercado em fábricas completamente abandonadas e a talho de foice lamentou que o pólo da sua universidade que é um dos mais creditados e acreditados na orientação tecnológica visando a fileira têxtil mais competitiva, não tenha sido sequer convidada a integrar os parceiros da Fundação de Santo Thyrso voltada para a modernização de uma arquitetura Industrial obsoleta.

Gilda Torrão foi, por sua vez, de uma clareza e clarividência no que toca ao chamado terceiro setor, conceito que, contrariando um pouco o esvaziamento do tecido produtivo tradicional e os rendimentos e desagregações dos laços familiares com as suas consequências trágicas, assumiu no território do concelho uma preponderância que se não pode escamotear: assim, serviços deste setor, incluindo misericórdias, fundações, cooperativas, IPSS, no caso que mais lhe diz respeito a Asas, entidades empregadoras com uma forte componente de voluntariado ao nível de muitos dos seus quadros dirigentes, que nasceram informalmente para dar respostas a problemas sociais graves, recebem subsídios públicos e privados, contribuições da sociedade civil mas que cada vez mais, à medida que estruturam e solidificam os seus serviços, promovem a reflexão sobre a sua atuação e interação com o público-alvo e com os parceiros que com eles atuam, começam a gerar também préstimos e excedentes que podem “vir a vender” por forma a garantirem a profissionalização dos seus agentes, sobretudo quando na vigência e provável agravamento dos recursos provenientes do erário público, há que suprir e encontrar novos recursos.

Enquanto diretora geral da Asas e economista, Gilda Torrão colocava-se a princípio o problema de como compatibilizar a sua sobrevivência  e da família, a sua realização económica,  num setor  que é visto ainda como um mundo onde o altruísmo, os valores do humanismo e do voluntariado ainda são dominantes, como equilibrar os valores de uma economia onde o lucro e a capitalização é fundamental com os valores da benemerência, por princípio sem fins lucrativos; concluindo que “sendo bons prestadores de serviços”, pela experiência que tem tido na Asas, onde vários técnicos de variada formação, em equipa e trabalho de rede conseguem abrir novas casas, acolher e integrar com êxito crianças de famílias em risco, de que um dos mais ricos exemplos é a “Casa do Sol” em Vila das Aves, “adquirimos já um capital e um “know-how” que estamos capazes de fazer 'render' para acorrer a sustentabilidade dos serviços”. Como exemplo, citou a parceria que estabeleceram com a Universidade do Minho que lhes assegura formação a custo zero, mostrando-se cada vez mais apoiante de ‘clusters’ de redes sociais, sendo certo que o Estado Social não vai poder sustentar estas redes pelo que a sociedade civil tem de se mobilizar e interagir para encontrar saídas válidas para problemas que se vão agravar.

Da plateia, mais do que elogios aos conferentes, vieram reparos, lamentos e problematizações quanto à incapacidade das autarquias, sobretudo por parte das câmaras que têm meios e técnicos compatíveis, para promoverem verdadeiras e eficientes redes de ação social no concelho, a partir das redes sociais de freguesia. Mas também surgiram exemplos vindos de iniciativas locais e das juntas de freguesia bem conseguidos de atenuar a desagregação do tecido produtivo com reflexos no familiar e no social. Empresários de Monte Córdova queixaram-se das acessibilidades, discutiu-se a economia paralela a pretexto de apoio ao artesanato, às gastronomias locais e à solidariedade social que por tabela prejudicam as verdadeiras empresas da economia local e os verdadeiros empresários e lamentou-se a ausência de representantes da Associação Comercial e Industrial do Concelho de Santo Tirso (Acist). Da parte da Asas ficou bem vincada a afirmação de que combate a economia paralela, seja a Tininha da esquina que “lava a roupa” dos seus utentes a preços domésticos, seja a Candidinha que faz croquetes e rissóis, recebe subsídio de inserção e não passa recibos nem paga direitos.
TEXTO: LUÍS AMÉRICO FERNANDES

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